O movimento a favor do reconhecimento pela UNESCO do Circo como Patrimônio Cultural Imaterial nas últimas décadas vem ganhando força internacionalmente. Em 2012, a Fédération Mondiale du Cirque lançou um projeto neste sentido, e também no Brasil tivemos manifestações importantes nesse sentido, como em 2019, por exemplo, quando o 2º Congresso Sul-Americano de Circo, realizado em Campinas, contando com a participação de mais de 200 circos, realizou um abaixo-assinado em prol do reconhecimento do circo como patrimônio imaterial no país. Outras articulações têm sido feitas por organizações como a UBCI – União Brasileira de Circos Itinerantes, que protocolou um pedido de reconhecimento do circo junto à câmara federal em 2021.

No nosso estado, a Associação de Circo do RS também luta pelo reconhecimento da tradição do circo gaúcho, que abrange famílias com tradição de atuação circense contínua ao longo de cinco ou seis gerações. No entanto, infelizmente, o mapeamento e a memória das famílias tradicionais dos circos itinerantes no estado jamais foram registrados academicamente ou por órgãos museológicos, ficando sua identificação e registros reduzidos a algumas poucas fotos guardadas pelas próprias famílias e às muitas histórias contadas internamente pelos mais velhos a seus filhos e netos.

A Circo Sul entende que, caso tais famílias, suas práticas e suas memórias não sejam registradas, parte da história do circo itinerante no RS se perderá para sempre. Por conta disso, iniciou uma série de projetos intitulada Memória e Identidade do Circo do RS, a qual será inaugurada com esta exposição virtual chamada A Vida da Família Bonaldo: o espetáculo que o público não vê. O projeto foi contemplado pelo XVI Prêmio Funarte Mark Ferrez de Fotografia, da FUNARTE, e contou com o olhar sensível de Adriana Marchiori, especialista em fotografia de cena, para clicar o cotidiano da família do Circo Bonaldo D’Itália e assim inaugurar este primeiro acervo permanente de registros, um pequeno passo para contribuir no processo necessário e urgente de reconhecimento do Circo como patrimônio imaterial. A produção e curadoria ficou por conta de Consuelo Vallandro, com assessoria de Vanessa Bonaldo – respectivamente atuais presidente e vice presidente da Associação de Circo do RS. Tivemos apoio ainda do SATED-RS e do Colegiado Setorial de Circo do RS. Esperamos todos que este seja um primeiro passo de uma grande jornada da lona aos museus.

Vida longa ao circo!